O "Pessoa" é uma companhia - Casa de Fernando Pessoa



O amor é uma companhia
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
10-7-1930

“O Pastor Amoroso”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
  - 100.



A Casa Fernando Pessoa é a casa que foi habitada pelo autor nos últimos 15 anos de vida e onde é possível visitar o seu quarto e objetos pessoais. Estar a casa de Fernando Pessoa é saber que aquele gênio foi um dia um ser humano. Tive essa mesma sensação quando visitei o túmulo de Van Gogh em Auvers su Oise na França. No quarto conseguimos encontrar a replica do baú (a arca de Fernando Pessoa), onde ele jogava os rascunhos e ideias de poemas dos seus vários eus.

"... Quem, que seja português, pode viver a estreiteza de uma só personalidade, de uma só nação, de uma só fé? Que português verdadeiro pode, por exemplo, viver a estreiteza estéril do catolicismo, quando fora dele há que viver todos os protestantismos, todos os credos orientais, todos os paganismos mortos e vivos, fundindo-os portuguesmente no Paganismo Superior? Não queiramos que fora de nós fique um único deus! Absorvamos os deuses todos!..."


13-10-1923

Ultimatum e Páginas de Sociologia Política . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução e organização de Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1980.  - 3.

A professora especialista em Camões e Fernando Pessoa, Cleonice Berardinelli, explica no documentário O vento lá fora, que Pessoa inicialmente queria usar pseudônimos, isto é, nomes falsos. Porém depois ele diz que não, que os dele não são pseudônimos, são heterônimos, pois eles possuem personalidades diferentes para expressar outros sentimentos que podiam não ser o dele.

"... pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida. Pensar, meu querido Casais Monteiro, que todos estes têm que ser, na prática da publicação, preteridos pelo Fernando Pessoa, impuro e simples!..."

Carta a Adolfo Casais Monteiro - 13 Jan. 1935



Na casa tem um acervo em multimídia que podemos ver a cronologia e entender melhor a criação dos seu heterônimos. E visitar Pessoa é isso, é voltar para casa e sentir vontade de "comer a poesia"! É sentir vontade de estudar e conhecer mais. E é exatamente para isso que serve uma viagem, para provocar!

" Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir. Sentir tudo de todas as maneiras."
Álvaro de Campos / Fernando Pessoa





Como chegar:



Ingresso: 3,00 €


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