A viagem das tranças

O que as tranças (box braids) me ensinaram…

Logo nos primeiros minutos as tranças me ensinaram a vida de algumas mulheres que sofrem preconceito. Senti isso ao vivo e pelo Whatsapp. Me disseram até como me vestir, tinha que ser com a saia longa hippie, assim “ficava combinando”. As pessoas não viam as tranças apenas como penteado, elas viam como cor. 

Me divertia e me assustava, porque com certeza eu também fui ensinada a pensar assim. Pensando bem, todos fomos! Nos filmes americanos a família ou é negra ou é branca. E não precisamos ir muito longe, a nossa Globo não é muito diferente. 

Depois de um tempo comecei a ver a delícia e a força de um cabelo trançado. As pessoas te olham e te acham diferente. Os penteados nunca te deixam pra baixo, é tudo pra cima! É impossível ficar indiferente a um cabelo trançado, as pessoas comentam, perguntam, querem saber, querem tocar. Me senti bonita, “de atitude” e autêntica. Quis tirar fotos, quis postar no facebook (quem me conhece sabe que eu não posto nada), recebi carinhos e retribui. 

Depois entrei em um grupo de mulheres que usam os cabelos trançados e entendi tudo que estava sentindo nesses dias. Todas amavam as suas trancinhas e compartilhavam como arrumavam o cabelo, como lavavam, mandavam fotos, faziam fotos para postar, ou até (como eu) se maquiavam só para sair mais bonita na foto!

Eu não imaginava que um simples penteado me pudesse trazer tanto aprendizado… E olhe que eu só queria matar a saudade da minha Bahia!

Depois desse texto acima eu vi o preconceito dos negros, eles me acham “branca" (tá difícil uma família baiana ser 100% branca ou até mesmo 100% negra, ali é uma mistura…) e por isso não “poderia" usar cabelo trançado. Aprendi o quanto é forte a manipulação da sociedade para dizer que o negro só pode casar com o negro, que não pode ter cargo de gerência ou até mesmo que não é uma pessoa que se deva confiar. E além de ser morena, e não branca, eu sou baiana, já percebi até que algumas pessoas não confiam no que eu digo por causa do meu sotaque (com certeza muita gente que ler vai dizer que estou exagerando, mas acreditem em mim, é verdade!). Como é ruim ficarmos de um lado só! A vida tem tantos outros lados, na verdade são bilhões, pois cada ser terá a sua visão e a sua compreensão dos fatos, pois cada um ocupa um espaço e tem uma história única de vida. 

Mas mesmo com tudo isso eu continuo com as minhas trancinhas e continuo me achando Super Poderosa. Mais bonita que Júlia Roberts, Carolina Ferraz e Maria Novaes. Outro dia até pensei em fazer uma sessão fotográfica com uma profissional. 

Resumindo: Eu indicaria uma coisa para as mulheres que estão sofrendo de baixa auto estima - TRANCE SEUS CABELOS!