A Mochila



Hoje fazem 6 anos que cheguei em Santiago de Compostela, depois de percorrer a pé, com a minha mochila e o meu cajado um caminho de 800 Km. Já escrevi essa aventura neste blog, mas hoje senti a necessidade de escrever sobre aquilo que talvez seja o maior aprendizado do caminho - A Mochila!



Sabia que teria que sair do Brasil com uma mochila leve, pesando mais ou menos 6 kgs. Então aqui está o primeiro passo. O que levar? Tudo na mochila era contado, um pouco de shampoo, 2 mudas de roupas apropriadas (leves e que secam rápido), um casaco, um saco de dormir super leve, um chinelo, protetor solar, alguns remédios e até o papel higiênico não tinha o miolo. Isso tudo porque cada grama na mochila pesa muito quando se caminha entre 20 a 30 Km por dia. Eu nem despachei a bagagem, ela foi junto comigo. 

No caminho encontrei diversas pessoas com mochilas leves, mas a maioria carregava 12 a 15 kg. E aqui estava o primeiro aprendizado para elas. Se livrar do extra e entender que precisamos de muito pouco para viver. 

Encontrei algumas outras pessoas que levavam coisas extras como remédios para ajudar o próximo, pois se alguém precisasse, ele tinha. Conheci gente que trocava a sua mochila com a do outro para dar um certo alívio ao parceiro peregrino. E aqui vem para mim o grande aprendizado do caminho. Será que eu devo carregar a mochila do outro? Até que ponto eu o ajudo fazendo isso? Vou contar uma história fora do caminho para me fazer mais clara…

Sempre ouvi a frase “quem empresta, não presta” e nunca entendi. Pensava que quem empresta é a pessoa legal, a que ajuda o próximo e assim vai. Até o dia que eu emprestei um dinheiro a uma conhecida. Começou com pouquinho, ela nunca pagava na data em que prometia e também não dava explicação. Ficava com muita raiva, achava muita cara de pau. Mas continuei emprestando e ela pagando da maneira dela… Até que um dia eu disse que não iria mais emprestar e neste dia aprendi o significado da frase - Quem empresta não presta! - a pessoa que se dizia minha amiga parou de falar comigo e se voltou contra mim. 

Uma vez conheci um senhor que dizia - se eu te emprestar dinheiro eu não estou te ajudando - e aqui vai a comparação com a mochila. Quando estamos apertados ou com dificuldades financeiras, temos que refazer o nosso orçamento, retirar alguns supérfluos, aumentar a entrada, economizar um pouco aqui ou ali. Pedir dinheiro emprestado só aumenta a bola de neve. Carregar a mochila do outro não adianta muito, porque ele nunca vai aprender a esvaziar a mochila. Estou falando de dinheiro, mas poderia ser de qualquer outra coisa, vejo muita gente tomando decisão pelo outro, tentando “salvar" a pessoa. Mas quanta gente chegou ao fundo do poço e sai de lá muito melhor do que era? Talvez aquele seja um aprendizado que ele tenha que passar, talvez essa seja a mochila que ele tenha que esvaziar. Esse já conhecido triângulo Salvador - Perseguidor - Vítima (Para quem não conhece, pode entender melhor aqui - http://www.katiaricardi.com.br/triangulo.htm) e que muitas vezes acabamos caindo, mas não deveríamos!

O caminho da ajuda é muito ténue, até que ponto estou ajudando e até que ponto estou atrapalhando o crescimento do outro? 

E a sua mochila? Como está?

Buon Camino,


Monike

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